Coluna: A união fez a força na oficina de sinalização do Parque da Serra do Papagaio


Por Clarice Nascimento Lantelme Silva*

Pedro Menezes apresenta livreto no VIII CBUC
Pedro Menezes apresenta livreto no VIII CBUC

Eu estava presente no VIII CBUC e no momento do lançamento de “PARQUES DO BRASIL – Sinalização de Trilhas: Manual Prático” de Pedro da Cunha e Menezes. Ouvi as palavras do autor e peguei uns 04 exemplares para levar para o Parque Estadual da Serra do Papagaio (PESP), em Minas Gerais, onde estou trabalhando como gerente.

De volta ao Parque, após o Congresso, abri a mala cheia de publicações para mostrar aos funcionários e pegamos logo o Manual de Sinalização para ler (veja a versão online), pois se trata de um tema que começamos a trabalhar este ano no PESP.

Começamos a ler em conjunto e o Tião, que não lê, foi contemplando as fotos e vendo que muitas coisas semelhantes as que estávamos fazendo no Parque estavam ali registradas. E fui vendo várias possibilidades para serem aplicadas no PESP, mas não consegui definir exatamente o que deveríamos seguir. Então fechei o livreto e disse: vamos fazer uma oficina! Chamei várias pessoas, estudamos o Manual e definimos como planejar as trilhas do PESP! Já era tarde da noite, fui me deitar e começou o que chamo de insônia de planejamento. Foi então que pensei que poderia tentar contatar o autor do livro e pedir apoio dele, não custa nada tentar. No dia seguinte, coloquei o nome dele no Facebook e lá estava ele. Mandei uma mensagem:

“Olá Pedro! Recebi das suas mãos o livro sobre sinalização de trilhas. Voltei inspirada no CBUC e ontem à noite sentamos em roda aqui no Parque Estadual da Serra do Papagaio, Minas Gerais, e estudamos as dicas do seu livro. Nosso sistema de trilhas aqui é bem complexo. Temos aproximadamente 200 km… nem todas contempladas pelo Plano de Manejo, mas está em boa hora para incrementá-lo. Queremos oferecer o mínimo de ordenamento para os visitantes. Ainda não temos controle dos acessos, mas acreditamos que já podemos ter um sistema de sinalização eficiente e, com isso, menos impacto na UC e menos risco para as visitas. Nossa ideia é juntar um grupo com voluntários (guias da região, estudantes de turismo…), funcionários da Unidade de Conservação, conselheiros do Grupo de Trabalho de trilhas e outros para fazer 5 dias de imersão aqui no Parque e gerar um plano com a sinalização que o sirva. Para tal, gostaria de saber se existe a possibilidade de você vir aqui dar uma palestra para nós. Usaremos seu trabalho como nosso guia, mas se for com você pessoalmente será muito melhor. Como é sabido, trabalhamos sem recursos. Alojamentos temos. Estou tentando verba para alimentação. A ideia está apenas começando. A data sugerida é de 05 a 09 de dezembro. Gostaria de saber se existe a possibilidade de você entrar neste trabalho conosco. Agradeço desde já pela atenção! Parabenizo mais uma vez pelo seu trabalho! Aguardamos retorno!”

Imediatamente tive resposta positiva!

Acho que o Pedro da Cunha e Menezes captou a essência do que queríamos fazer! Dali, iniciamos 2 meses de conversas virtuais e no dia 05 de dezembro ele e equipe chegaram no Parque para compartilhar conhecimentos com a turma de 30 inscritos selecionados para participarem da I Oficina de Trilhas do PESP.

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A nossa Oficina de Trilhas foi um sucesso. Foi mais que uma capacitação. Foi momento de reflexão e união em prol do desenvolvimento dos Parques Brasileiros. Afinal, o Parque serve pra quê? Essa é a pergunta da maior parte da sociedade, principalmente daqueles que moram ao redor dessas áreas. Muitos não compreendem para que deixar de usar uma área em prol da conservação sem que haja um retorno tangível. A categoria Parque, pelo próprio nome, já inspira lazer, brincar, desfrutar, diversão. Se fosse para deixar as áreas de um Parque somente destinadas à preservação, outras categorias de unidades de conservação poderiam ter sido escolhidas. Pedro colocou com ênfase que o Brasil está muito atrasado em relação a outros países no mundo no planejamento de suas trilhas para a visitação nas UCs. Justamente um país gigante pela própria natureza, que poderia, através de trilhas, conectar a sociedade e a conservação ambiental. Ele comentou também que, apesar do atraso, o sistema de Unidades de Conservação de Minas Gerais está à frente na gestão dos Parques em relação a outros estados do Brasil.

A oficina nos mostrou como podemos tornar nossas UCs aptas a receber todos os tipos de público e oferecer a melhor visita possível às pessoas e assim também contribuir para uma transformação da sociedade nas suas relações com o meio ambiente. Costuma-se muito ouvir pessoas que não frequentam parques brasileiros rasgando elogios a Parques em outros países.

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Não só em benefício dos próprios visitantes, o uso dos Parques para o turismo serve também como inibidor para as ameaças constantes à proteção destas áreas. Com os visitantes circulando pelas trilhas e atrativos, o próprio parque ganha um controle maior sobre o seu território.

A técnica empregada na oficina traz solução para problemas comuns em sinalização e manejo de trilhas em quase todas as UCs: falta de recursos, vandalismo e pouca disponibilidade de equipes para manutenção. Para os parques que não possuem controle da visitação, como é o caso do PESP, esta técnica se encaixa muito bem na busca por um melhor ordenamento da atividade. Alguns criticam a utilização de pinturas em pedras e árvores para sinalizar, mas compreendemos que é uma forma de driblar a tentativa de vândalos de destruir placas, totens e outras estruturas. As soluções de baixo custo reforçam uma das máximas do Manual: “Falta de dinheiro não é desculpa para sinalização ineficiente”. Aprendemos a beça na teoria e na prática. Vimos que não é preciso reinventar a roda! Basta nos espelharmos no trabalho de outros países que são considerados menos desenvolvidos que o Brasil.

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O produto final da Oficina foi a implementação de uma trilha de 7 km denominada “Trilha do Vale das Araucárias” (14 km ida e volta) e o planejamento de outras duas trilhas. Isso é apenas o começo de um grande trabalho para tornar o PESP o ‘Paraíso do Trekking’, e poder receber visitantes com maior segurança. No futuro, esperamos também recebermos uma certificação internacional. Por isso, seguiremos o padrão para atender visitantes de todo o mundo.  

Nosso desafio é enfrentar o exagero preservacionista de alguns, que ao meu ver, soa mais como egoísmo do que ambientalismo. Muitos querem aquela área preservada só para eles e não querem dividir com toda a sociedade. É absurdo, por exemplo, uma cachoeira apta para banho ser banida da visitação, sem uma justificativa plausível, apenas para se dizer que está sendo preservada.

Por fim, a equipe do PESP agradece a todos envolvidos que não mediram esforços para o sucesso da Oficina. Ao site ((o))eco, à Trilha Transcarioca e ao Parque Nacional da Floresta da Tijuca pelos brilhantes instrutores, à WWF pelo apoio e manuais disponibilizados, às empresas que custearam a alimentação, Polibiomas e VeloSport Kailash, ao PROMATA pelo custeio do transporte, ao Instituto Alto Montana pelos colchões, aos colegas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), aos voluntários participantes vindos de várias regiões: MUITO OBRIGADA e rumo a certificação!

 

*Clarice Nascimento Lantelme Silva é engenheira florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa, com pós-graduação em Administração e Manejo de Unidades de Conservação pelo IEF/FAFILE e mestrado em Ecologia Aplicada ao Manejo e Conservação dos Recursos Naturais pela UFJF. Atualmente é analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas e gerente do Parque Estadual da Serra do Papagaio-MG.

 

 

 

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